Existo em ti. Nos gestos que fazes, nas palavras caladas que não me dizes. Existo quando me olhas sem me veres, existo quando te vejo e tu não me vês. Tentei encontrar formas de existir à parte de ti, pensei em maneiras de conseguir desprender-me das teias do teu toque. Continuo a existir em ti, e tu não sabes. Tu não queres saber se me empurro contra ti sem que me sintas ou se me esmago entre o que sou e o que queria ser, apenas por ti.
Esforcei-me por calar-te no meio dos gritos surdos e não consegui. Entre as páginas queimadas daquele livro que ando a ler, encontrei-te. Encontrei-te outra vez por me ter perdido. E é tão triste. Quase tão triste como a música da minha vida. Existo em ti: em cada instante que passa sem que eu dê conta, em cada casa abandonada, ou nas ruas desertas onde vagueio sozinha na sombra de mim.
A semana passada existi em ti sem querer sequer existir. Então fui até á rua do meu quarto e despi-me do refúgio que me abriga. Na solidão dos ecos que ficaram retidos entre os espelhos vi que existi em ti. Inventei uma história triste que pusesse fim ao pesar do luto na minha voz, algo verdadeiramente triste que me impedisse de continuar a existir em ti.
Foi então que recebi a notícia: Ele morreu.
E na ausência da tua figura, na falta que ficou, eu existi. Soube que enquanto eu existisse em ti, a notícia era mentira, e tu eras vivo aqui dentro, no espaço dentro de mim onde tu existias.
Ego

- Joanaa Luna
- Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.
sábado, 21 de novembro de 2009
Existes em Mim
Publicada por Joanaa Luna à(s) 15:39
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3 comentários:
Muito bonito! =)
...
Deita cá pra fora... zD
bjinhos
muito bonito mesmo.
Vou seguir!
Como é bom existirmos por/para alguém mesmo quando esse alguém já não está cá para existir connosco. De uma certa forma, a sua inexistência faz com que essa pessoa sobreviva por um único meio: as memórias. Gostei muito do teu texto :)
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