Ego

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Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Deixou o resto à tua guarda

Diz-me o que ficou por dizer, a tristeza que refugiaste de silêncio e o mundo inteiro que calaste dentro do teu pequeno espelho. Mostra-me o que escondeste no teu grande, enorme peito, tudo aquilo que fechaste nas mãos suadas de medo.
Deixa-me entrar para lá da porta que trancaste, a porta trancada da vida que esqueceste do outro lado, no meio do Oceano. Não tenhas medo! O lago espera por ti, quer acalmar a corrente forte que te puxa, que te prende o ar. Escreve o lago em inglês, porque em inglês é tudo sempre mais igual. Sorri! E guarda-me lá um espaço, um espacinho nas luzes que levaste e não quiseste dizer... Não te censuro, uma luz é algo tão precioso, e se eu fosse a ti teria feito o mesmo, se ao menos eu fosse como tu. Mas não sou, e serei cada vez menos, porque o tempo passa e distancia-me do momento onde ficaste, e eu vou continuando até que um momento fique comigo. Às vezes queria ser, queria saber de ti, do coração que bate, do coração que parou tão perto. Do lugar onde estou se tivesses gritado eu podia ter-te ouvido, e se ouvisse... nada me garante que terias ficado.
No meio do oceano, é tão grande o Oceano. Vejo-te e estás longe de ti, longe do lugar. Se eu soubesse onde moras podia ter-te levado a casa, mas eu não sabia, ainda não sei, e hoje é tarde para bateres à porta, embora ainda haja quem espere ver-te chegar mesmo sabendo que não chegas nunca.
Chegaste: a nave central é a casa, na igreja onde moras, se eu soubesse que lá estavas talvez tivesse ido, ou não.
Sempre Com Tanto Tempo. Dá-me tempo, pára o meu tempo. Dá-te mais tempo, podias ter-me dado tempo para parar o tempo daquele momento. Olha-me aqui a procurar restos de ti no infinito da tua identidade, eu não sei nada e o que sei não me chega. Tudo o que ficou por dizer na conclusão inacabada arde no lugar onde a porta permanece fechada, como se ainda estivesses lá dentro. A torneira que deixa a água pingar lentamente, é como a chuva que cai lá fora e que tu não ouves porque tudo o que querias ouvir está no meio do oceano onde hoje navegas à deriva. Levaste contigo tanto tempo, mas foi tão pouco o tempo que levaste comparado como que deixaste, levaste o mês e os dias daquele mês e embrulhada neles levaste a chave da porta que fechou na eternidade o teu sorriso.


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