Ego

A minha foto
Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.

domingo, 28 de março de 2010


Se soubesse que ia ser assim tinha-te deixado do outro lado do mundo. Ter-te-ia empurrado para fora das correntes da minha carência antes de conseguires sequer tocar a fragilidade da minha pele.
Mas eu não sabia!
Abri-te a porta: é uma porta tão leve, tão transparente. Não é difícil transpô-la.
Tocaste-me a pele e eu sorri. Olhaste-me os olhos e eu vi as cores do mundo. Abraçaste-me e eu suspirei. Fechei os olhos com força: queria ter a força para fazer aquele momento durar para sempre. E se não o pudesse fazer durar para sempre no tempo do Mundo, queria faze-lo durar no nosso tempo, na nossa (talvez unicamente minha), ainda pequena, construção.
Mas eu não sabia! Não sabia que ias queimar a minha pele com o teu toque, que ias encurralar-me nos teus olhos e sufocar-me nos teus braços. Eu não sabia que ias fazer tudo isso e que depois ias fazer do meu tempo um tempo diferente do teu: dois tempos que não tinham como se cruzar. Se eu soubesse...
Tentei de todas as formas impedir-te de ir, de partir de mim: agarrei-te sem que sentisses, chorei-te sem que visses mesmo quando chorava diante de ti, gritei por ti mesmo sabendo que não me ouvias, atirei-me para o chão coberto de nada e rastejei enquanto chorava lágrimas de sangue, lágrimas de sangue que nasciam nos meus pulsos.
Nunca me prometeste nada. Nunca me disseste "Para sempre!". Nunca me disseste "Vou desfazer o nosso tempo e transformá-lo em dois: tu segues no teu e eu no meu. Em direcções opostas."
Eu não sabia! Eu não queria saber! Mas se soubesse...
Se eu soubesse ter-te-ia aberto a porta transparente e leve que dá acesso ao lado desprotegido do meu ser despedaçado, ter-te-ia deixado tocar-me a pele mesmo sabendo que o teu toque era de fogo, ter-me-ia encurralado nos teus olhos, e ter-te-ia deixado sufocar-me nos teus braços. Porque mesmo sabendo de toda essa desgraça se iria abater sobre mim, eu só queria ter-te! Porquê? Porque nenhuma dor é maior do que a dor de estar ausente de mim na presença da própria solidão.

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