Não queria despedaçar-me, fragmentar-me. Enquanto vos olhava de cima para baixo pensava que podia voar sobre todos vocês, as penas das minhas asas cairiam sobre os ombros de alguém que soubesse fazer com elas um monte de vida que me permitisse sobreviver à queda.
Cair. A queda foi a primeira coisa que senti quando me dei conta de mim. Comecei por cair devagar, as penas fugiam-me das asas fortes e grandes, das asas protectoras. Depois o processo tornou-se rápido: quanto mais me aproximava do vosso lugar menos protectoras se tornavam as minhas asas. As penas já não caíam por si, eram-me arrancadas à força pelo vento que soprava ecos de miséria, fragilidade, abandono, culpa. Despareceram-me as asas. As penas ficaram sujas da lama que os vossos pés carregavam, que a vossa alma emanava. Desfizeram-se, afogaram-se, ausentaram-se.
Sem asas, sem penas nas asas que já não tinha: perdi tudo aquilo que fazia de mim o que era (por fora). Aqui dentro: no peito, no fundo do peito, no corpo, nos ossos e na carne que protege os ossos, no sangue, nas veias por onde corre o sangue, no coração que o bombeia, na pele fria que toca energias e que as absorve, alma. Alma, minha triste alma!
Não queria despedaçar-me, fragmentar-me. Olhei-os de cima para baixo e lembrei-me: "Não posso mais olhá-los de cima para baixo! A minha cidade já não é uma cidade de anjos, já não existe espaço para os anjos nas cidades. Os que restaram foram consumidos pelas batas brancas, amarrados pelos pulsos em camas de ferro branco e frio. Não posso olhá-los sem que eles me vejam cair." Chorei. As minhas lágrimas quebraram-se no vazio aflito daqueles olhos: "Joana, tu não tens asas! Joana, tu não sabes voar!"
Era noite. Fazia frio. Chovia. Gritavam: "Não tens asas!"
E eu aqui dentro gritava em silêncio: "Se eu ainda tivesse asas abraçava o Mundo para deixá-lo abraçar-me."
Cair. A queda foi a primeira coisa que senti quando me dei conta de mim. Comecei por cair devagar, as penas fugiam-me das asas fortes e grandes, das asas protectoras. Depois o processo tornou-se rápido: quanto mais me aproximava do vosso lugar menos protectoras se tornavam as minhas asas. As penas já não caíam por si, eram-me arrancadas à força pelo vento que soprava ecos de miséria, fragilidade, abandono, culpa. Despareceram-me as asas. As penas ficaram sujas da lama que os vossos pés carregavam, que a vossa alma emanava. Desfizeram-se, afogaram-se, ausentaram-se.
Sem asas, sem penas nas asas que já não tinha: perdi tudo aquilo que fazia de mim o que era (por fora). Aqui dentro: no peito, no fundo do peito, no corpo, nos ossos e na carne que protege os ossos, no sangue, nas veias por onde corre o sangue, no coração que o bombeia, na pele fria que toca energias e que as absorve, alma. Alma, minha triste alma!
Não queria despedaçar-me, fragmentar-me. Olhei-os de cima para baixo e lembrei-me: "Não posso mais olhá-los de cima para baixo! A minha cidade já não é uma cidade de anjos, já não existe espaço para os anjos nas cidades. Os que restaram foram consumidos pelas batas brancas, amarrados pelos pulsos em camas de ferro branco e frio. Não posso olhá-los sem que eles me vejam cair." Chorei. As minhas lágrimas quebraram-se no vazio aflito daqueles olhos: "Joana, tu não tens asas! Joana, tu não sabes voar!"
Era noite. Fazia frio. Chovia. Gritavam: "Não tens asas!"
E eu aqui dentro gritava em silêncio: "Se eu ainda tivesse asas abraçava o Mundo para deixá-lo abraçar-me."
Puxaram-me. Então percebi: Ainda existem anjos nas cidades, anjos de asas invisíveis. E senti, senti a invisibilidade das asas deles tocarem o sítio onde antes existiam as minhas.
Senti a queda. Estou viva.
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