Ego

A minha foto
Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Acordei.

Acordei?
Sinto-me cega de dor, dor que não consigo explicar. Não consigo ver, não consigo caminhar. Na verdade nem consigo entender se estou já de pé ou deitada. Sinto apenas que não me consigo sentir para além da dor. Vozes, meio gritos meio murmúrios, entoam na minha cabeça e deixam-me enjoada. Fragmentos da minha vida são agora espelhados no meu cérebro em pequenos flashes. Sou criança, a infância que não me lembro de ter tido. De repente, vejo-me sucumbir no mundo negro da depressão, mãos banhadas de sangue, olhos absortos de dor, gritos, vozes, pesadelos que tinha quando não conseguia adormecer. Anti-depressivos, anti-psicóticos, Prozac, dêem-lhe Prozac. Vejo as lâminas, acho que as sinto. Rasgam-me a carne como se fosse papel, e sabe tão bem. Os olhares condenatórios fazem-me sentir uma autêntica aberração. Os cortes aliviam os pensamentos cruéis que se apoderam de mim. Como vou fazê-los entender? Existe uma dor bem dentro de mim, uma dor que ninguém vê, os vossos olhos cegos parecem-me chamas que me queimam lentamente. Condenada à fogueira pela Inquisição da vossa voz. Que tipo de monstro sou eu? Os flashes continuam a passar, quero paré-los. Parem! Vejo o filme de uma vida que nem sei bem se é minha. E num flashe relembro a semana passada, tudo o que aconteceu. Mas não consigo decifrar este código.
Acordei?
O cheiro a sangue aqui é intenso, nauseabundo, quase repugnante. Os meus olhos parecem estar turvados, não consigo perceber onde estou. Sinto-me como um farrapo. Não tenho forças para me mexer. Por mais esforço que faça, o meu cérebro não responde, parece estar desconectado. Num segundo uma luz abre-se na minha direcção, penetra-me os pulsos feridos, como o sangue nas minhas veias sinto a luz no meu peito, arde como as chamas da fogueira do passado, e de repente mais nada...
Acordei.

0 comentários: