Ego

A minha foto
Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sombra

Afastei-me da sombra que me acompanhava. Ela perseguiu-me, seguia lado a lado comigo. Eu e a sombra. As pessoas olhavam e acenavam, diziam "bom dia" e "boa tarde", eu acenava-lhes e a sombra também. Tentei ignorar a sombra, deixá-la ficar para trás enquanto ela dormia sobre o tapete de névoa do meu quarto. Quando pensava ter escapado, olhava para o lado, a sombra. O ombro da sombra colado no meu ombro.
Eu ia a chorar, a sombra ia como sempre: sombra. As pessoas viam-me e ao passar sorriam e diziam "bom dia" e "boa tarde". Porquê? Porque é que ninguém me pergunta se preciso de ajuda, o que se passa comigo, porque fogem de mim gotas de orvalho, porque me afogo no sangue da minha alma? Corri para casa. A sombra correu ao meu lado, sempre com os passos coordenados com os meus, numa coordenação tão perfeita que chegava a irritar.
Cheguei a casa, fui à casa de banho, acendi a luz que dava cor de fogo à casa de banho mas que mantinha a sombra sempre sombra. Queria lavar a cara, arrancar-lhe as lágrimas. Abri a torneira, as minhas mãos encheram-se da água da torneira e tocaram-me o rosto. Ocorreu-me olhar o espelho, ver se se notava que tinha estado a chorar. Olhei. E nesse instante eu vi a sombra mas não me vi a mim.

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