Ego

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Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.

domingo, 4 de outubro de 2009

O casulo da Larva

É um espírito inconsciente que desce à terra por vontade própria, perde-se na estratégia lamacenta de um olhar. Fixámos o olhar, parados no tempo intermédio de uma vida desprotegida. Na batalha que perdi encontrei-me contigo, vencedor daquela guerra e quis gritar “Vitória!”. Cada batida: um som que me invade até aos ossos e corrói-me a pele, aquece-me o sangue. Nas veias já só sinto o ritmo rápido e descompassado da tua voz e é como se me sussurrasses ao ouvido gritos de dor que fluem através das mentiras das tuas cordas vocais. Pensaste em mim naquela noite como pensaste nelas nas outras noites, eu sei, nunca imaginei que fosse de outra forma e por isso é quase indiferente que os teus olhos fixem os meus como se chamasses o meu corpo para a tua cama onde me agarras com uma força animal e me pedes coisas que também lhes pedes, cresces dentro de mim e eu vou-me tornando cada vez mais pequena até ao ponto em que me desvaneço entranhando-me na tua pele, entro na tua corrente sanguínea e como um vírus ataco o teu sistema imunitário. Sentes-me como uma larva que te come por dentro, formo um casulo no interior do teu ser e aconchego-me lá, sabes bem que não vou embora. E os ossos, e a pele, e a voz ou o sorriso, até mesmo o meu olhar, tudo aquilo que consumiste retorna a mim, ao sítio de onde nunca devia ter saído. Aos poucos apago-me de ti numa memória de sangue que flutua em nuvens de algodão doce. Há um casulo que cresce dentro de ti e que não se apaga em memórias de sangue, um casulo que te consome a pele até aos ossos e que te rasga as entranhas até te esmagar no silêncio de uma voz que se atreveu a sussurrar-me gritos de amor.

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