Agredis-me com beijos envenenados. As tuas mãos macias deixam nódoas negras no meu corpo, e tua voz doce fere os meus ouvidos. Sinto a tua respiração no meu pescoço como uma corda que me estrangula de desejo, deixas-me sem conseguir respirar.
Não vês as lágrimas nos meus olhos? Não consegues sentir o sabor do sangue na minha boca?
Levas-me para a cama e obrigo-me a ser tua mesmo sabendo que nunca és meu quando te dás. Onde foste?
Dispo-te enquanto me despes e toco-te. Injecto-me com o prazer que te dou, que me dás. E no impulso peço-te coisas loucas e porcas: sei que vais satisfazer todos os meus pedidos por duas horas. O nosso amor é para sempre durante duas horas e depois: a porta a fechar-se, o calor a tornar-se gelo e eu, eu a morrer de fora para dentro sem me conseguir mexer ou falar. O brilho nestes olhos meus deixa de ser de prazer, é apenas dor que flui em mim, e os gemidos esqueceram-se do prazer para abraçar o choro incontrolável. Afinal as tuas mãos macias eram tão ásperas e pesadas que deixaram, em cada centímetro do meu corpo, feridas abertas que ardem como as fogueiras da Inquisição. A tua saliva tornou-se ácido que me comeu a pele e corroeu a carne.
Volta atrás! Quero-te outra vez durante mais duas horas, dentro de mim a fazer-me sentir viva. Volta atrás e dá-me o teu amor eterno por duas horas.
Ego

- Joanaa Luna
- Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Duas Horas
Publicada por Joanaa Luna à(s) 15:25 0 comentários
sábado, 24 de outubro de 2009
Refúgio de Loucos
Guardei-me num refúgio para loucos e esperei.
Esperei;
que alguém chegasse lá daquele sítio para me levar dali e não chegou ninguém.
Ninguém;
veio e aos poucos vi-me desvanecer por entre o espaço que nos separava e chorei.
Chorei;
tanto que me esqueci do que ainda era e tornei-me nada.
Nada;
é o que resta daquelas memórias que deixaste tatuadas em mim como cicatrizes.
Cicatrizes;
tenho-as espalhadas pelo meu corpo frágil e desprotegido.
Desprotegido;
continua quebrando-se contra os rochedos da tua ausência.
Ausência;
que me envenena até aos ossos, corroí-me a alma.
Alma;
que é feito de ti? Pareces estar mais distante que esta distância que o separa de mim.
Estou aqui, num refúgio para loucos.
Queria fugir da loucura do mundo para me reencontrar. Ter tempo para ficar só comigo, ou só com ele.
Estive aqui tanto tempo, suspensa nas teias desta falta que sinto, só agora percebo que para sobreviver à loucura do mundo precisava de ser um pouco mais louca.
Publicada por Joanaa Luna à(s) 17:23 0 comentários
domingo, 4 de outubro de 2009
O casulo da Larva
É um espírito inconsciente que desce à terra por vontade própria, perde-se na estratégia lamacenta de um olhar. Fixámos o olhar, parados no tempo intermédio de uma vida desprotegida. Na batalha que perdi encontrei-me contigo, vencedor daquela guerra e quis gritar “Vitória!”. Cada batida: um som que me invade até aos ossos e corrói-me a pele, aquece-me o sangue. Nas veias já só sinto o ritmo rápido e descompassado da tua voz e é como se me sussurrasses ao ouvido gritos de dor que fluem através das mentiras das tuas cordas vocais. Pensaste em mim naquela noite como pensaste nelas nas outras noites, eu sei, nunca imaginei que fosse de outra forma e por isso é quase indiferente que os teus olhos fixem os meus como se chamasses o meu corpo para a tua cama onde me agarras com uma força animal e me pedes coisas que também lhes pedes, cresces dentro de mim e eu vou-me tornando cada vez mais pequena até ao ponto em que me desvaneço entranhando-me na tua pele, entro na tua corrente sanguínea e como um vírus ataco o teu sistema imunitário. Sentes-me como uma larva que te come por dentro, formo um casulo no interior do teu ser e aconchego-me lá, sabes bem que não vou embora. E os ossos, e a pele, e a voz ou o sorriso, até mesmo o meu olhar, tudo aquilo que consumiste retorna a mim, ao sítio de onde nunca devia ter saído. Aos poucos apago-me de ti numa memória de sangue que flutua em nuvens de algodão doce. Há um casulo que cresce dentro de ti e que não se apaga em memórias de sangue, um casulo que te consome a pele até aos ossos e que te rasga as entranhas até te esmagar no silêncio de uma voz que se atreveu a sussurrar-me gritos de amor.
Publicada por Joanaa Luna à(s) 14:00 0 comentários