Ego

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Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Quero ter o tempo para morrer por ti

Se eu morresse aos poucos, devagar e em câmara lenta talvez tivesses tempo para pensar se querias ou não salvar-me. Se a morte me pegasse ao colo e esperasse os dias que precisas para decidir então eu acho que ela me entregaria nos teus braços. Se o tempo para morrer me desse tempo para te ligar a meio da noite tu ias fazer-me sorrir para a morte e o som do meu riso afasta-la-ia de mim. Mas não sei se o alarme vai tocar a tempo, não sei se o alarme da minha morte vai dar-me tempo de te acordar com os olhos cheios das lágrimas que tu não viste. Talvez não me encontres mais, nunca mais. Ou podes até cruzar-te comigo na rua e sei que não vamos ter tempo para parar o relógio da vida.
Hoje pensei que morrer seria mais fácil do que existir apenas entre o peso da consciência e o vazio da saudade. Atirei-me para o chão como se te procurasse e chorei, chorei tanto que deixei de conseguir respirar, e parti a lâmpada do candeeiro que iluminava aquela triste cena. A raiva de mim despedaçou-me. Só desejei saber quanto tempo levava a morrer se me matasse, e sei que se soubesse que tinha tempo de te ver chegar para me salvares a vontade de ir para sempre desapareceria.
Mas quem sou eu? Quem sou eu para te arrastar comigo para as profundezas do meu cérebro doente e despistado? Vou deixar-te livre de mim como eu queria ser. Liberta-me de ti para morrer! Não, eu não quero ser vítima de mim mesma, vítima desta dor que não sei de onde vem. Foste porto de abrigo que afastou as ruínas da minha tristeza, e soube-me bem cada momento, soube-me bem cada momento daqueles em que me esqueci do passado. Pela primeira vez em muito tempo vi-me completar-me no reflexo dos teus olhos, e do teu lado senti-me em casa.
Não sei se vais chegar a tempo de me salvar, de me acordar do sono profundo da minha morte, se a morte me pegar ao colo para me entregar nos teus braços vais sentir-me gelada, perdida na aflição da minha ressaca, porque eu não sei se te vou ligar a meio da noite para te avisar que tá na hora, e mesmo que ligasse tu não ias compreender a dimensão das minhas palavras, porque só se ama uma vez de cada vez e a minha vez passou mesmo antes de ter chegado.
És o estranho capaz de me manter viva. Quero ter o tempo para morrer por ti.

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