Ego

A minha foto
Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.

domingo, 23 de maio de 2010

Mutilação

Chega muda e transparente. Ninguém adivinha que se aproxima de forma inevitável. É um monstro que como um vento forte arrasa tudo á sua passagem. Arrefece os corpos e rouba as almas, deixa ficar o vazio e o peso da ausência. Ignora o choro, as palavras, os pedidos em desespero. Sempre insensível e surda. Arranca da terra as raízes da vida, atrás destas vão partes de outras raízes, mutiladas para sempre. Na memória que fica quando parte, depois de ter parado o sangue num corpo qualquer, há-de ouvir-se sempre o eco do choro, o sabor amargo da derrota.

O rasto que fica é negro, desfocado e quase assassino. Tudo o que sobra é memória, e a memória é tão pouco. A saudade de uma presença que já não se sente, que nunca mais se sente, e uma vontade de dizer palavras que terão de permanecer caladas para sempre só porque já não existe quem tinha de as ouvir.

...Mutilada para sempre pela tua ausência.

sábado, 22 de maio de 2010

Imagem que se reflecte no espelho, uma voz que fala lá de dentro para o interior da minha mente. Grita comigo a voz bruta e gelada.
Fecho os olhos, toco o espelho, toco a voz.
Os meus dedos congelam, a voz é gelada, seca.
Imagem que se reflecte no espelho, cabelos negros e pesados caem sobre um rosto pálido e triste.
Olha-me nos olhos o reflexo no espelho.
Lágrimas de sangue, choro as lágrimas de sangue que se afastaram do reflexo e encontram em mim a fonte.
Aproximo-me do espelho, sinto que já não sou eu: que sou os gritos, o frio, a loucura acorrentada ao rosto pálido e ao nome que não sei decifrar. Pequenas gotas caem do chuveiro criando um cântico irreal e frágil, música que conforta a dor causada pela lâmina afiada da faca.
Mão fechada, a força toda guardada na mão, lágrimas de sangue mancham o chão e a mão continua fechada pela força. Raiva. Uma linha que se traça no escuro, é a direcção que a força na mão deve seguir. Dois segundos. Um barulho, um grito. Sangue que escorre pela mão para se juntar ás manchas que as lágrimas deixaram no chão. Frio. O espelho partido.
Sentada no chão sem que exista mais o espelho nem o reflexo, olho para a porta e vejo: cabelos negros e pesados que caem sobre um rosto pálido e triste.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Dissociative

Perdi-me. Agarrei-me a um momento breve e triste e perdi-me. Fugi de mim para outro “eu” e esqueci-me de como voltar- A minha casa estava tão fria e ausente, tão escura, parecia estar de luto por mim. Os sentimentos sem nome, sem identidade pesavam-me no corpo e arruinavam-me o futuro e eu queria fugir deles. Apeteciam-me as lágrimas para me lavar o corpo dos sentimentos que me perseguiam mas já não sabia como chorar. Calei-me. Guardei a vontade de chorar, vontade que não sabia como passar disso mesmo. Abracei-me como se te abraçasse e despedi-me de mim. Sabia que não ia voltar porque estava perdida.

Estou perdida e não sei como voltar mas insisto em não me despedir como se soubesse.