Chega muda e transparente. Ninguém adivinha que se aproxima de forma inevitável. É um monstro que como um vento forte arrasa tudo á sua passagem. Arrefece os corpos e rouba as almas, deixa ficar o vazio e o peso da ausência. Ignora o choro, as palavras, os pedidos em desespero. Sempre insensível e surda. Arranca da terra as raízes da vida, atrás destas vão partes de outras raízes, mutiladas para sempre. Na memória que fica quando parte, depois de ter parado o sangue num corpo qualquer, há-de ouvir-se sempre o eco do choro, o sabor amargo da derrota.
O rasto que fica é negro, desfocado e quase assassino. Tudo o que sobra é memória, e a memória é tão pouco. A saudade de uma presença que já não se sente, que nunca mais se sente, e uma vontade de dizer palavras que terão de permanecer caladas para sempre só porque já não existe quem tinha de as ouvir.
...Mutilada para sempre pela tua ausência.
Ego

- Joanaa Luna
- Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.
domingo, 23 de maio de 2010
Mutilação
Publicada por Joanaa Luna à(s) 20:08 3 comentários
sábado, 22 de maio de 2010
Imagem que se reflecte no espelho, uma voz que fala lá de dentro para o interior da minha mente. Grita comigo a voz bruta e gelada.
Fecho os olhos, toco o espelho, toco a voz.
Os meus dedos congelam, a voz é gelada, seca.
Imagem que se reflecte no espelho, cabelos negros e pesados caem sobre um rosto pálido e triste.
Olha-me nos olhos o reflexo no espelho.
Lágrimas de sangue, choro as lágrimas de sangue que se afastaram do reflexo e encontram em mim a fonte.
Aproximo-me do espelho, sinto que já não sou eu: que sou os gritos, o frio, a loucura acorrentada ao rosto pálido e ao nome que não sei decifrar. Pequenas gotas caem do chuveiro criando um cântico irreal e frágil, música que conforta a dor causada pela lâmina afiada da faca.
Mão fechada, a força toda guardada na mão, lágrimas de sangue mancham o chão e a mão continua fechada pela força. Raiva. Uma linha que se traça no escuro, é a direcção que a força na mão deve seguir. Dois segundos. Um barulho, um grito. Sangue que escorre pela mão para se juntar ás manchas que as lágrimas deixaram no chão. Frio. O espelho partido.
Sentada no chão sem que exista mais o espelho nem o reflexo, olho para a porta e vejo: cabelos negros e pesados que caem sobre um rosto pálido e triste.
Fecho os olhos, toco o espelho, toco a voz.
Os meus dedos congelam, a voz é gelada, seca.
Imagem que se reflecte no espelho, cabelos negros e pesados caem sobre um rosto pálido e triste.
Olha-me nos olhos o reflexo no espelho.
Lágrimas de sangue, choro as lágrimas de sangue que se afastaram do reflexo e encontram em mim a fonte.
Aproximo-me do espelho, sinto que já não sou eu: que sou os gritos, o frio, a loucura acorrentada ao rosto pálido e ao nome que não sei decifrar. Pequenas gotas caem do chuveiro criando um cântico irreal e frágil, música que conforta a dor causada pela lâmina afiada da faca.
Mão fechada, a força toda guardada na mão, lágrimas de sangue mancham o chão e a mão continua fechada pela força. Raiva. Uma linha que se traça no escuro, é a direcção que a força na mão deve seguir. Dois segundos. Um barulho, um grito. Sangue que escorre pela mão para se juntar ás manchas que as lágrimas deixaram no chão. Frio. O espelho partido.
Sentada no chão sem que exista mais o espelho nem o reflexo, olho para a porta e vejo: cabelos negros e pesados que caem sobre um rosto pálido e triste.
Publicada por Joanaa Luna à(s) 17:53 1 comentários
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Dissociative
Perdi-me. Agarrei-me a um momento breve e triste e perdi-me. Fugi de mim para outro “eu” e esqueci-me de como voltar- A minha casa estava tão fria e ausente, tão escura, parecia estar de luto por mim. Os sentimentos sem nome, sem identidade pesavam-me no corpo e arruinavam-me o futuro e eu queria fugir deles. Apeteciam-me as lágrimas para me lavar o corpo dos sentimentos que me perseguiam mas já não sabia como chorar. Calei-me. Guardei a vontade de chorar, vontade que não sabia como passar disso mesmo. Abracei-me como se te abraçasse e despedi-me de mim. Sabia que não ia voltar porque estava perdida.
Estou perdida e não sei como voltar mas insisto em não me despedir como se soubesse.
Estou perdida e não sei como voltar mas insisto em não me despedir como se soubesse.
Publicada por Joanaa Luna à(s) 17:58 1 comentários
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