Ego

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Pisei todos os caminhos, incluindo aqueles que estavam cobertos de Trevas. Evitei voar sobre eles mesmo na certeza de que o Sol brilhava mais acima daquele lugar. Toquei-me de Trevas e, já sem asas, ausentei-me do Sol.

sábado, 3 de julho de 2010

Estou viva. deixa-me pensar

Procuro as palavras. As palavras certas. As palavras que conseguem dar voz aos meus pensamentos calados. Agarro no dicionário da minha memória, nas gavetas vazias da minha mente, tenho de encontrar o que procuro. No meio daquela confusão imensa: ideias, visões, pensamentos breves e superficiais que se encaixam num único pensamento profundo e eterno; vazios, um poço seco que anseia por um água que nunca teve, uma dor que carrega em si tantas outras, espaços amplos onde cabe tanta gente sem que lá se encontre alguém. Vejo o muro, a corrente, a ponte. Em cada lugar procuro as palavras. Em cada momento procuro as palavras certas. Perdi-as, é isso que penso. Mas o que penso é um mundo, e um mundo é tanta coisa que não se pode calar, ou guardar em pensamentos mudos, pensamentos que se fecham por dentro sem nunca entender a falta que fazem cá fora. Tatuei-me de dor. Penso, e pensar não me chega para encontrar as palavras certas. Olho-me por dentro, tantas palavras, a tinta de uma caneta avança sobre o sangue nas minhas veias, desejo ou vontade. Penso, e o que penso fecha-se em mim. Os pensamentos são correntes que se arrastam pelas minhas cordas vocais, fico muda. Preciso de encontrar as palavras certas. Avanço, não quero ser vista, sinto-me transparente. Não me vejas, não me magoes, não encontres os meus pensamentos... frágeis e melancólicos pensamentos! Por favor, deixa-me esconder, deixa-me ficar abraçada aos meus medos enquanto procuro as palavras que nunca serão a minha voz. Estou aqui, entre quatro paredes brancas, uma pequena luz ilumina as paredes, existe tinta na caneta que a minha mão guarda. Os meus olhos procuram nas paredes as palavras que não encontram, e esses palavras ausentes fazem-me tanta falta.
Na ausência das palavras sinto com intensidade dupla, sinto calada porque assim sinto mais. Queria escrever as palavras certas, mas faltam-me essas palavras; falta-me, por vezes, o verdadeiro significado do “certo”. Tenho uma missão impossível, encontrar o que desconheço, algo que nem sei por onde anda. Vejo o muro, a corrente, a ponte. E vejo as palavras que se transportam de uns para os outros, de uns para o nada. Penso e escrevo, descrevo o que penso sem pensar nas palavras, porque os pensamentos traduzidos pelas palavras certas não podem ser os meus pensamentos.
Pensa, existo; sou porque vivo, e vivo porque penso. Estou viva, deixa-me pensar.